terça-feira, 17 de novembro de 2009

Dizendo Adeus a um Amigo Fiel


 Aqui está o texto traduzido que John escreveu para a sua coluna no jornal, após a morte de Marley!

Lindo, engraçado e de saudade.


Dizendo Adeus a um Amigo Fiel 
John Grogan, autor de "Marley e Eu"

Na madrugada cinzenta, encontrei a pá na garagem e desci a colina até onde o gramado encontra o bosque. Lá, sob uma majestosa cerejeira, comecei a cavar.
A terra estava solta, abençoadamente descongelada e o trabalho foi rápido. Era estranho estar no quintal sem Marley, o Labrador retriever que por 13 anos teve como dever estar grudado em mim em cada excursão para fora de casa, seja para colher um tomate, arrancar uma erva ou buscar a correspondência. E então estava eu sozinho, cavando para ele um buraco.
"Jamais haverá um cachorro como Marley", meu pai falou quando dei a notícia de que finalmente tive que colocá-lo para dormir. Foi a coisa mais próxima a um elogio que nosso animal de estimação jamais recebeu.
Ninguém jamais o chamou de maravilhoso — ou mesmo um bom cachorro. Ele era tão selvagem quanto a banshee e tão forte quanto um touro. Ele colidiu alegremente com a vida com uma vontade mais freqüentemente associada com desastres naturais.
Foi o único cachorro que conheci expulso da escola de obediência.
Marley era um mastigador de sofás, destruidor de telas de proteção, lançador de baba, derrubador de latas de lixo. Era tão grande que podia comer da mesa da cozinha com todas as quatro patas plantadas no chão — e o fazia todas as vezes que não estávamos por perto.
Marley despedaçou mais colchões e cavou mais paredes do que consigo lembrar, quase sempre pelo pavor causado por seu mortal inimigo, o trovão.
Bonito mais burrinho.
Era um animal magestoso, quase 45 quilos de músculos trepidantes, embrulhados num luxuoso casaco de pele cor de palha. Quanto à inteligência, deixe-me apenas dizer que ele perseguiu sua cauda até o dia de sua morte, aparentemente convencido que estava à beira de uma grande descoberta canina.
A cauda conseguia limpar uma mesinha de centro em uma única varrida. Perdemos a conta das coisas que engoliu, incluindo a corrente de ouro de minha mulher, que acabamos conseguindo recuperar, mais brilhante do que nunca. Uma vez o levamos conosco em um pequeno restaurante ao ar livre e o amarramos a uma mesa de ferro. Grande erro. Marley avistou um Poodle bonitinho e lá se foi ele, com mesa e tudo.
Mas seu coração era puro.
Quando trouxe minha mulher do médico depois que nossa primeira gravidez terminou em aborto, aquela besta selvagem gentilmente descansou sua enorme cabeça no colo dela e apenas choramingou. E quando os bebês finalmente chegaram, de alguma forma ele entendeu que eram algo especial e permitia que montassem nele, puxando suas orelhas e arrancando punhados de pelo. Um dia, quando um estranho tentou segurar uma das crianças, nosso alegre gigante mostrou uma ferocidade que nós jamais imaginávamos que podia existir dentro dele.
Com o passar dos anos, Marley acalmou e dormir passou a ser seu passatempo preferido. No final, sua audição estava comprometida, seus dentes cairam, seus quadris tão duros por causa da artrite que malmente conseguia ficar em pé. Apesar de tudo, recebia cada dia com a alegria travessa que era sua marca registrada. Dias antes de sua morte, o peguei com a cabeça enfiada na lixeira.
Lições de vida aprendidas.
Uma pessoa pode aprender muito de um cão, mesmo de um amalucado como o nosso.
Marley ensinou-me viver cada dia com uma exuberância sem limites e alegria, aproveitando o momento e seguindo seu coração. Ensinou-me a apreciar as coisas simples — um passeio no campo, a neve caindo, uma soneca sob o sol do inverno. E enquando envelhecia cheio de dores, ensinou-me sobre otimismo frente às adversidades.
Mais que tudo, ensinou-me sobre amizade e generosidade e, sobretudo, resoluta lealdade.
Quando sua hora chegou na semana passada, ajoelhei-me ao seu lado no chão do hospital veterinário, acariciando seu focinho branco enquanto a veterinária falava sobre cremação. Não, eu disse para ela, vou levá-lo para casa comigo.
Na manhã seguinte, nossa família estaria em frente ao buraco que cavei dizendo adeus. As crianças colocariam desenhos ao lado dele. Minha mulher falaria por todos nós quando disse: "Deus, vou sentir tanta falta desse bobão."
Mas agora eu tinha alguns minutos com ele antes que a veterinária voltasse. Pensei nos seus 13 anos — os móveis destruídos e as manias engraçadas; os beijos molhados e a devoção sem limites. Considerando tudo, não foi uma jornada ruim.
Não quis que ele deixasse este mundo acreditando na sua má fama. Coloquei minha testa próxima a dele e falei: "Marley, você é um cachorro maravilhoso. "


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